Série Tática: Quarterback
- Carol Grigori
- 28 de jun. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 24 de ago. de 2020
Após estudarmos o funcionamento de um jogo de futebol americano, vamos falar sobre as posições do esporte, começando pelo quarterback. A ideia não é fazer um resumão pra que você consiga simplesmente acompanhar "mais ou menos" uma partida. Minha intenção é que você saia daqui entendendo um pouco mais do que o QB faz além de lançar a bola.
O que é um quarterback?
O quarterback é o cabeça do time. Dentro de campo, ele tem diversas funções:
Informar cada jogada aos demais jogadores da equipe;
Fazer a leitura da defesa: é o principal responsável por perceber se a equipe adversária está preparada para defender a jogada que foi decidida pelo ataque.
Receber a bola das mãos do center, no movimento que chamamos de snap;
Lançar a bola para um recebedor elegível - entraremos mais a fundo nessa parte nas próximas matérias da série - em casos de jogada aérea;
Entregar a bola nas mãos do corredor em casos de jogada terrestre.
Preparação do ataque para os jogos
A maioria das pessoas que acompanham o esporte há pouco tempo, ficam assustadas com a rapidez em que as jogadas são realizadas no futebol americano. Como o QB (e comissão técnica) consegue decidir tão rápido qual jogada é mais apropriada para cada down? O que muitos não sabem, é que a preparação começa muito antes das partidas propriamente ditas.
Toda a preparação para os jogos da temporada começa quando a anterior termina. Análise de tudo que funcionou ou não, aperfeiçoamento do playbook (um tipo de "livro" com todas as jogadas da equipe), preparação para a free agency e Draft, tudo isso reflete na temporada. Após o planejamento ser finalizado, é a hora de botar em prática. Geralmente, as jogadas são ensinadas durante o training camp e revisadas durante a pré-temporada.
Na última semana da preseason, as preparações para o primeiro jogo da temporada regular começam. O técnico e coordenadores analisam o adversário e enxugam as jogadas do playbook, de acordo com o que acham que funcionará naquela partida. São consideradas em média 100 jogadas. Neste momento, o trabalho do quarterback começa. Ele opina sobre as jogadas escolhidas, o que ajuda a diminuir ainda mais as opções, já que não há tempo hábil para treinar todas as cogitadas anteriormente.
No primeiro dia de treino (segunda-feira), a equipe revê a última partida e recebe tratamento médico. No final deste dia, o scout se encontra com as comissões de ataque e defesa do time para passar informações acerca dos últimos 4 jogos do adversário. Quais são suas principais escolhas, resultado de audibles e conjuntos de jogadores. Também é o dia de avaliar o desempenho dos últimos jogos da própria equipe e descobrir o que dará certo naquela semana, ou fazer pequenas alterações. Além disso, ainda tenta tornar seu time imprevisível, visto que o adversário também estará o analisando.
Ainda no primeiro dia a noite, os técnicos assistem vídeos de seus adversários para elaborar análises. As comissões técnicas se reúnem separadamente no dia seguinte para discutir sobre o que viram e finalizam as jogadas que serão utilizadas na partida.
Então, na quarta-feira, os treinos começam. São executadas as jogadas de primeira e segunda descidas e audibles. No final do dia, as comissões avaliam o treino e decidem as jogadas que poderão ser utilizadas nas terceiras descidas.
No dia seguinte, acontecem as reuniões com os jogadores. Análise e correção (caso necessário) das jogadas do treino anterior e prática das jogadas de terceira descida. Os técnicos, mais uma vez, assistem o que aconteceu no dia de treino. Além disso, são escolhidas as jogadas que serão treinadas no dia seguinte. Por último, são treinadas situações de jogadas para conquistar poucas jardas e de two minute warning.

Na sexta, o dia é bem parecido com o anterior, com a diferença que o treino tem duração menor. Já no dia anterior à partida, em caso de treino, o mesmo dura apenas 45 minutos - enquanto os treinos de quarta e quinta duram 90. Se o jogo do dia seguinte for em casa, os jogadores podem ir para casa após o treino e precisam se apresentar às 20h. Caso o jogo seja fora, eles irão para o aeroporto. No sábado a noite é feito exercício com o special team, para que cada jogador saiba quem vai substituir, em caso de necessidade.
Toda essa rotina foi detalhada porque geralmente o quarterback é o jogador que mais participa dessa preparação. Quando a equipe vai começar os treinos, o QB já conhece todo o playbook para a semana. Ele já opinou previamente sobre as jogadas e observou as tendências gerais da defesa adversária. Os outros dias tem como principal objetivo desenvolver maior conhecimento dos jogadores de seu ataque dentro das jogadas escolhidas - pois precisa saber exatamente onde cada um estará na execução da jogada.
Durante o jogo
Digamos que um quarterback tem dois momentos na partida: a preparação para as jogadas e quando a bola vai efetivamente "entrar em jogo".
Na primeira situação, o trabalho começa no huddle - reunião que os jogadores fazem antes de cada jogada. Ali, de acordo com os estudos da semana e orientação do técnico ou coordenador ofensivo (através de ponto eletrônico no helmet - capacete), é informada a próxima jogada.
Quando os jogadores de ataque estão se alinhando, é responsabilidade do QB fazer a leitura da defesa adversária. Se perceber que ela está preparada para defender a jogada que foi informada no huddle, ele deve alterá-la com o que chamamos de audible - veremos a seguir. Os momentos que antecedem o snap são primordiais para o sucesso ou não do ataque. São segundos de tensão e muita "briga" psicológica e estratégica. Veja abaixo alguns exemplos:
Depois que o snap acontece, entram as opções de jogo corrido ou aéreo. Caso a jogada seja terrestre, o QB precisa se certificar que entregou de forma segura a bola nas mãos do corredor e fingir que ainda tem a posse dela, para enganar a defesa e ganhar alguns segundos de vantagem. Caso seja passe, precisa identificar o tipo de cobertura da defesa e saber onde cada recebedor está posicionado em campo. Inicialmente, o quarterback tem um ponto fixo para lançamento (conforme foi informado no huddle), mas precisa de "válvulas de escape" caso algo dê errado.
As chamadas e os audibles
Quando uma jogada termina, a equipe tem 40 segundos para colocar a bola em jogo novamente. Pelo pouco tempo disponível e muito trabalho a ser feito, obviamente é impossível detalhar a formação e a jogada que será executada a seguir. Por isso os treinos são tão importantes: no momento do huddle, o quarterback fala uma frase e cada jogador precisa saber o significado.
Um ótimo exemplo, que é abordado no livro "Tire os Olhos da Bola" de Pat Kirwan e David Seigerman (que inclusive é fonte principal desta matéria), é o seguinte:
Vamos supor que a equipe tenha entrado em campo com QB (1) + linha ofensiva (5) + running backs (2) + tight end (1) + wide receivers (2), totalizando 11 jogadores. O nome da jogada, a princípio é "I Weak Right". A letra "I" informa ao corredor 1 que ele ficará 6,5 jardas atrás do quarterback no campo; "Weak" diz ao corredor 2 que ele ficará do lado oposto ao lado do tight end; e "Right" é o lado que o TE ficará.
É possível melhorar esta nomeclatura, para que com poucas palavras todos os jogadores sejam alinhados. Essa, em específico, se chama "I Weak Right Boot Right 819 Fullback Opposite". Mas não é necessário entrarmos tão a fundo nesse momento. Não se prenda aos conceitos de cada termo. Ainda estamos na segunda matéria da série tática. Tente entender apenas como as formações são "nomeadas" e como são feitas as alterações.
Conforme abordado anteriormente, caso o QB perceba que a defesa está preparada para defender a jogada que tem como formação "I Weak Right", ele terá que fazer modificações em cima da hora. Geralmente, são usadas quaisquer palavras, como nomes de cores, combinadas com números. As jogadas geralmente tem seus próprios nomes e são mencionadas junto com a formação desejada.
O vídeo a seguir é muito interessante. Além de mostrar a comunicação de Peyton Manning - um dos melhores quarterbacks da história - com os jogadores, ainda exibe a jogada que tornou Manning o n° 1 em quantidade de passes para touchdown na história da NFL (hoje já foi superado por Tom Brady e Drew Brees). O audible "Omaha" do jogador é um dos mais conhecidos na Liga.
Os recordes da história da NFL

Os grandes nomes da história
Obviamente, recordes não são tudo na carreira de um jogador. Um dos maiores quarterbacks da história sequer ganhou um Super Bowl (Dan Marino). Veja os principais nomes da posição e sinta-se a vontade para pesquisar e conhecer mais sobre cada um deles, dentro e fora de campo.
Tom Brady
Joe Montana
Peyton Manning
Johnny Unitas
Otto Graham
Drew Brees
Dan Marino
Roger Staubach
John Elway
Aaron Rodgers
Brett Favre
Fonte: Tire os Olhos da Bola, Pat Kirwan e David Seigerman.
Mais um ótimo texto feito com muito cuidado e informação!