A novela Aaron Rodgers e Green Bay Packers
- Caio Cervera
- 30 de jul. de 2021
- 5 min de leitura
Depois de meses de muitos rumores, notícias e negociações, a conturbada relação entre Aaron Rodgers e o Green Bay Packers parece caminhar para voltar aos eixos (ainda que não 100%). Como podemos avaliar toda essa novela entre ambos e o que esperar dos próximos anos dessa relação?
Primeiras notícias sobre o descontentamento
Faltavam apenas algumas horas para o início do Draft de 2021. Tudo parecia caminhar para um início tranquilo do evento, quando a bomba explodiu no mundo da NFL. Um dos jornalistas mais relevantes que cobrem a Liga, Adam Schefter, havia publicado que o atual MVP estava tão descontente com a equipe que não queria retornar para uma nova temporada em Green Bay.
Foi o suficiente para que o caos se instalasse. Diversos jornalistas começaram a ir atrás desse fato, com alguns tendo outros pontos de vista em relação a situação. O surgimento de rumores sobre uma possível troca nas próximas horas dentro do Draft e até mesmo quais equipes estariam interessadas no QB. Um dos principais eventos da Liga estava prestes a acontecer e só se falava em Aaron Rodgers.
Foi revelado que, antes do Draft, duas equipes fizeram sondagens para saber a situação de Rodgers: Los Angeles Rams e San Francisco 49ers, e o Packers recusou ambas. O Rams acabou trocando por Matthew Stafford e San Francisco acabou selecionando Trey Lance com a terceira escolha geral do Draft.
Após o início do evento, outro rumor tomou conta: o Denver Broncos estaria em contato com GB para uma possível troca pelo QB. Os boatos ficaram mais fortes ainda após a equipe não selecionar um QB na nona escolha geral do Draft, com bons nomes como Justin Fields e Mac Jones ainda disponíveis. Mas no final da noite, o GM de Green Bay, Brian Gutekunst, foi enfático e disse: “nós não iremos trocar o Aaron”.

O que aconteceu desde o Draft até hoje
Realmente não fazia sentido para o Packers trocar o seu melhor jogador. Além da óbvia perda técnica, os valores do contrato de Rodgers não ajudavam o jogador nesse momento. O salário do QB pesava 37,2 milhões de dólares no salary cap da equipe naquele momento. Se Aaron fosse trocado antes do dia 01/06, Green Bay ficaria com um dead money de 38,35 milhões de dólares (sim, mais do que se não fizessem nada). Caso ele fosse trocado após o dia 01/06, a franquia teria 21,15 milhões de dólares de dead money nessa temporada + 17,2 milhões de dólares no ano que vem.
O descontentamento de Rodgers não era sobre dinheiro. Logo começaram a surgir notícias de que o QB na verdade queria ter mais participação nas tomadas de decisão da equipe. Um dos exemplos disso foi em relação ao WR Jake Kumerow. Segundo o repórter Ian Rapoport, o fato da franquia ter cortado do seu elenco o recebedor um dia após Aaron elogiá-lo publicamente em uma coletiva de imprensa foi a gota d’água na relação entre as duas partes.
No dia 24/05, iniciavam os OTAs (treinamentos voluntários) de Green Bay e a expectativa era que o QB não se apresentasse. Embora não fosse um evento obrigatório de participação dos atletas e também não acarretaria em nenhuma multa caso eles não comparecessem, Rodgers nunca havia deixado de ser apresentar aos OTAs antes. E ele não compareceu.
No final do dia de abertura dos treinos voluntários, Aaron deu uma entrevista para a ESPN Americana. O jogador amenizou a situação em relação à escolha de Jordan Love no Draft de 2020, elogiando bastante o mesmo. Também elogiou seus companheiros de equipe, a comissão técnica e a torcida do Packers e disse: “É sobre a filosofia. Talvez eles tenham esquecido que as pessoas que fazem as coisas funcionarem. É sobre caráter, é sobre cultura, é sobre fazer as coisas do jeito certo”.

Após um mês de junho sem muitas novidades, na última sexta (23) o WR Davante Adams encerrou as negociações que vinham se arrastando por um bom tempo para a renovação de seu contrato, que vai até o final dessa temporada. Logo após, no sábado, Adams e Rodgers postaram em seus perfis no Instagram uma foto dos astros da NBA e do Chicago Bulls, Michael Jordan e Scottie Pippen, fazendo referência a “The Last Dance”, assim chamada a última temporada dos dois icônicos jogadores na franquia do Bulls que ganhou 6 títulos em 8 temporadas.
A resolução
Depois de praticamente 3 meses de angústia para os torcedores de Green Bay, finalmente eles puderam respirar mais aliviados. Na última segunda feira o jornalista Ian Rapoport publicou em seu twitter que as duas partes estavam nas partes finais de uma reestruturação do contrato do QB e que Rodgers estaria de volta ao time na temporada de 2021.
De acordo com o que foi noticiado pelo repórter da NFL Network, Tom Pelissero, o acordo é o seguinte: o ano de 2023 do contrato foi anulado, e o mesmo acaba um dia antes do prazo para a aplicação da franchise tag, fazendo com que seja impossível a equipe utilizá-la com ele. Com as reestruturações financeiras, o Packers abriu aproximadamente 10 milhões de dólares no cap desse ano.
Ainda segundo o repórter, caso o atleta seja trocado antes do dia 01/06/2022 a franquia teria 26,8 milhões de dólares de dead money no salary cap, fazendo com que seja bem difícil a saída de Rodgers também na próxima offseason.
O que Green Bay ganha nesse cenário? Não perderá um dos maiores da sua história nesse momento e ainda se mantém como um dos favoritos ao título. Além de que, com a reestruturação do contrato do jogador, a franquia terá mais salary cap para poder realizar algumas ações para fortalecer a equipe antes do início da temporada.

O que o futuro reserva para os dois lados dessa história
Para Aaron Rodgers: o QB não tinha muito poder de barganha nessa negociação. Não haviam cláusulas que facilitavam uma troca e seu salary cap era algo estaria de qualquer forma atrapalhando os planos da franquia caso ele fosse trocado. De todo modo, a luta do jogador era para, além de ter mais liberdade para decidir seu futuro a partir do ano que vem, ter mais voz dentro das tomadas de decisão da franquia. E isso já começou a ocorrer. Um dos pedidos de Rodgers foi a volta de um dos seus principais recebedores nos últimos anos: Randall Cobb. Green Bay anunciou na noite dessa quarta-feira a aquisição do recebedor junto ao Houston Texans, em troca de uma escolha de sexta rodada do Draft do ano que vem.
Nas entrevistas realizadas no primeiro dia do Training Camp o tom de Rodgers foi bem claro: ele vem para fazer tudo que for possível para vencer o Super Bowl em Green Bay, mas caso as coisas não andem conforme o esperado ele terá mais liberdade para tomar suas decisões.
Para o Packers: quando a equipe selecionou o QB Jordan Love no Draft do ano passado o futuro era claro: Rodgers não ficaria muito mais tempo em Green Bay. A franquia havia realizado o mesmo processo na transição Favre-Rodgers. Mesmo com Brett ainda jogando em alto nível, Aaron foi selecionado na primeira rodada do Draft de 2005. Esse é o estilo da equipe há anos e não seria agora que algo mudaria. Obviamente que toda essa situação poderia ter sido evitada caso a comunicação entre front office e Rodgers tivesse sido melhor, mas isso não ocorreu e houve esse desgaste de relação.
Agora a franquia torce para que realmente ocorra uma temporada digna de “The Last Dance” por parte de Aaron e que finalmente o segundo Super Bowl sob o comando do QB seja conquistado. Em 2022 Rodgers terá o último ano de contrato e por mais que seja difícil uma troca a franquia concordou em rever sua situação na próxima offseason. Caso realmente deseje deixar a equipe o Packers ainda conseguiria um bom valor em troca de um dos melhores jogadores de todos os tempos da liga. Só nos resta apreciar esses capítulos finais da trajetória do camisa 12 em Green Bay.
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